Entrevista com a Fossa dei Leoni - Fortitudo Versão para impressão

A Fossa dei Leoni – Fortitudo alcançou o estatuto de referência no panorama ultra italiano, desde logo porque apoia uma equipa de Basket e não uma equipa do "Calcio", por outro lado estamos perante um Grupo Ultra cuja atividade ultrapassa os quarenta anos, com uma mentalidade que tem sabido resistir às mais diversas vicissitudes, quer do seu próprio clube, quer do movimento ultra italiano.

A Torcida Verde trocou impressões com um responsável deste fantástico fenómeno chamado Fossa Dei Leoni – Fortitudo. Aqui fica o registo.

Fossa dei Leoni - Fortitudo

TV: Vocês apoiam um clube de Basket. Fala-nos um pouco da vossa paixão, levando em conta que existe um clube de futebol de grande tradição em Bolonha.

Em Itália o desporto nacional é o futebol, no entanto, Bolonha é conhecida como a ”Basket City”, dada a importância e tradição que o Basket assume na cidade. É a única cidade onde existem duas equipas de Basket, sendo que estas contribuem para “dar vida” ao Derby, um jogo que não é apenas um jogo, é um evento. Um evento de carácter social: ricos contra pobres, boas pessoas contra más pessoas, vencedores contra perdedores. São os dois modos de vida que contribuem para a divisão da cidade. O incrível é que mesmo que não te consideres um ultra ou um adepto de uma das duas equipas acabas sempre por ter uma simpatia por uma delas. É esta "moda" da cidade do Basket, é por estas razões que este desporto se torna tão importante como o futebol nesta cidade.

Fossa dei Leoni - Fortitudo

TV: Como é a coexistência entre o Basket e o Futebol?

A coexistência entre o futebol e o Basket é óptima para a cidade: os clubes são independentes entre si, assim como os seus adeptos. No início, nos anos 70, eram os “rapazes do estádio” que davam vida aos grupos de apoiantes do Basket, pois eram os que assistiam aos dois desportos. Posteriormente, estes grupos começaram a torna-se independentes, no entanto, no geral existe um sentimento de amizade e respeito entre o nosso grupo e os "rapazes do estádio".

TV: A FdL nasceu nos anos 70, como foram os primeiros tempos?

Os primeiros dias do movimento ultra eram mais espontâneos, com mais liberdade e melhores ideais. No entanto, acreditamos que os movimentos são um reflexo da sociedade na qual estamos inseridos; esta sociedade encontra-se em crise, é dominada pelo poder das indústrias e gira em torno do dinheiro e das aparências. Controlo social, repressão social e negócios são alguns dos problemas da sociedade e para o movimento ultra.

Fossa dei Leoni - Fortitudo

TV: Quais os valores que vocês consideram como sendo os mais importantes para o movimento ultra?

Com certeza a independência dos grupos em relação aos seus clubes e pela sociedade em geral. A identidade e o movimento espontâneo são a base para tudo. Lealdade, amizade e respeito dentro do próprio grupo não deixam de ser menos importantes.

TV: Consideras que esses valores existem na realidade?

Os valores ultra existem no “papel”, mas não na realidade. Não existe uma norma que regule o movimento, cada grupo tem os seus valores que muitas vezes diferem uns dos outros. É triste, mas é assim que acontece.

Fossa dei Leoni - Fortitudo

TV: Como achas que se encontra o movimento em geral?

Está em crise, tal como a sociedade na qual vivemos. A resistência de cada grupo é o único caminho. Nós pensamos que a coisa boa é que cada grupo ultra seja uma pequena sociedade dentro da sociedade, mas com as suas próprias regras, leis e responsáveis pelo seu regulamento: uma bonita experiência.

TV: Fala-nos um pouco da importância dos centros sociais no movimento ultra italiano.

Os centros sociais são uma das melhores formas de agregação social que esta sociedade permite, sendo que é por isso que podem ser vistos como perigosos para o “Poder de Estado”. Com o passar do tempo foram estas (sub)culturas da sociedade que deram vida a diferentes formas de luta baseadas em ideais que se foram foram alterando com o tempo, sendo que uma parte do movimento ultra nasceu neste contexto. Os ideais de rebeldia e antagonismo que nos levaram adiante são similares, mas, a forma de lutar, o campo de luta e os objectivos diferem.

TV: Como era a vossa relação com a extinta Fossa dei Leoni do Milan?

A amizade com a Fossa dei Leoni MILAN nasceu há muitos anos. O nosso grupo herdou o nome e o símbolo (a única diferença é na posição do leão). No passado algumas pessoas do FdL Bologna tornaram-se amigas de elementos da FdL MILAN, amizade essa que foi perdurando ao longo do tempo. Nós sofremos quando eles decidiram pelo fim da sua acção, ainda assim pode dizer-se que existe um legado entre os leões.

Fossa dei Leoni - Fortitudo

TV: No decurso da história da FdL estiveram no topo do Basket italiano (e europeu) mas presentemente o Fortitudo está na falência. Como tem sido essa "experiência"?

O negócio em qualquer desporto é um obstáculo porque mata a paixão. O "Showbusiness" trás o dinheiro para o nosso mundo, as televisões e a repressão que altera a perspectiva do jogo. Esta realidade fez com que os adeptos ficassem como um protagonismo no jogo, passaram a ser literalmente como os animais do circo. O negócio pode ser visto como um vampiro que suga todo o sangue e depois procura outra vitima para fazer o mesmo.

TV: Como estão actualmente?

Passamos do céu ao inferno, neste momento. Dentro de pouco tempo penso que haja o risco de desaparecermos. O nosso clube está falido e o clube que lhe sucedeu está quase igualmente falido! Incrível! Estamos a combater numa guerra forte contra tudo e todos para que exista uma continuidade da nossa identidade e espírito. Estamos a lutar contra pessoas que caraterizam os adeptos como animais estúpidos que não pensam e não lutam. Nós aceitamos uma situação na qual não nos reconhecemos. Preferimos a morte do grupo! E é próximos dessa situação que nos encontramos agora. É é difícil e triste e isso deixa-nos furiosos.

Fossa dei Leoni - Fortitudo

TV: Alguns tifos ou transfertas que consideres mais marcantes?

Existem muitos tifos da FdL1970 importantes o que dificulta a escolha de apenas um. Os melhores deverão ser os dos derbys contra Virtus onde a nossa melhor criatividade vinha ao de cima, nomeadamente nos derbys de 1995 e 1999. A escolha para os melhores transfertas é ainda mais difícil, no entanto, deverão ser casos de Cremona, em 1991 e para Reggio Emilia em Abril de 1992. Depois destes seguem-se as vários transfertas para a final do campeonato italiano. As melhores serão provavelmente as de Munich, na Alemanha em 1999, pois nessa altura houve um derby contra a Virtus para a final europeia.

TV: Na tua opinião qual o principal desafio do movimento ultra em geral?

O verdadeiro desafio é a continuação da nossa acção sem que esta acarrete a perda dos nossos ideais e caraterísticas.

TV: O que é que tens a dizer sobre as relações entres os Grupos Ultras e os Presidentes dos Clubes?

Nós dizemos que NÃO à relação entre os grupos ultra e os Presidentes de Clubes, pois existem muitas diferenças e são mundos que devem manter-se separados.

Fossa dei Leoni - Fortitudo

TV: Falando de ídolos, acha que ainda há espaço para “jogadores bandeira” no contexto do negócio do desporto?

No passado, os jogadores bandeira personificavam o apoio dado à equipa, por isso eram considerados ídolos. Cada grupo teve os seus jogadores referência, no entanto, isso já não acontece nos dias de hoje, salvas excepções. O dinheiro e o negócio tornaram-se mais poderosos do que o respeito pelo ideais e os sonhos. É muito triste, mas é assim que funciona.

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